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sábado, 30 de abril de 2022

ESTELA & NIZE

 Eu vi a linda Estela e, namorado,

fiz logo eterno voto de querê-la;

mas vi depois a Nize, e a achei tão bela,

que merece igualmente o meu cuidado.

 

A qual escolherei, se neste estado

não posso distinguir Nize de Estela?

Se Nize vier aqui, morr

o por ela;

se Estela agora vier, fico abrasado.

 

Mas, ah! que aquela me despreza amante,

pois sabe que estou preso em outros braços,

e esta não me quer, por inconstante.

 

Vem, Cupido, soltar-me destes laços:

— faze de dois semblantes um semblante,

ou divide o meu peito em dois pedaços.


[ALVARENGA PEIXOTO]

quinta-feira, 28 de abril de 2022

UMA PRECE PELA UCRÃNIA

PENSAMENTO DO DIA

 Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

[Mario Quintana]

BACH/JOHN WILLIANS : Prelude from Lute Suite No. 4 in E Major (Seville,...



HÃO DE CHORAR POR ELA OS CINAMONOS

 

Hão de chorar por ela os cinamomos,

murchando as flores ao tombar do dia.

Dos laranjais hão-de cair os pomos,

lembrando-se daquela que os colhia.

 

As estrelas dirão: — "Ai! nada somos,

pois ela se morreu silente e fria"...

E, pondo os olhos nela como pomos,

hão-de chorar a irmã que lhes sorria.

 

A Lua, que lhe foi mãe carinhosa,

que a viu nascer e amar, há-de envolvê-la

entre lírios e pétalas de rosa.

 

Os meus sonhos de amor serão defuntos...

E os arcanjos dirão no azul, ao vê-la,

pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"


[ALPHONSUS DE GUMARÃES]

quarta-feira, 27 de abril de 2022

DEBUSSY 160 ANOS - CLAIR DE LUNE

Rainha Elizabeth II completa 96 anos hoje [21.04.2022]


 O ANIVERSÁRIO DE DONA ELIZABETH

DUAS ALMAS

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,

entra, e sob este teto encontrarás carinho:

eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,

vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

 

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,

e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.

Entra, ao menos até que as curvas do caminho

se banhem no esplendor nascente da alvorada.

 

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,

essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,

podes partir de novo, ó nômade formosa!

 

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:

há de ficar comigo uma saudade tua,

hás de levar contigo uma saudade minha...


[ALCEU WAMOSY]