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quinta-feira, 19 de maio de 2022
terça-feira, 17 de maio de 2022
segunda-feira, 16 de maio de 2022
A CEGONHA
Em solitária, plácida cegonha.
imersa num cismar ignoto e vago,
num fim de ocaso, à beira azul de um lago,
sem tristeza, quem há que os olhos ponha?
Vendo-a, Senhora, vossa mente sonha.
Talvez que o conde de um palácio mago
loura fada perversa, em tredo afago,
mudou nessa pernalta erma e tristonha.
Mas eu que, em prol da Luz, do pétreo e denso
véu do Ser ou Não-Ser, tento a escalada,
qual morosa, tenaz, paciente lesma,
ao vê-la assim, mirar-se na água, penso
ver a Dúvida humana debruçada
sobre a angústia infinita de si mesma
[ANÍBAL TEÓFILO]
sexta-feira, 13 de maio de 2022
MAL DE AMOR
Toda pena de amor, por mais que doa,
no próprio amor encontra recompensa.
As lágrimas que causa a indiferença,
seca-as depressa uma palavra boa.
A mão que fere, o ferro que agrilhoa,
obstáculos não são que Amor não vença.
Amor transforma em luz a treva densa;
por um sorriso Amor tudo perdoa.
Ai de quem muito amar, não sendo amado,
e, depois de sofrer tanta amargura,
pela mão que o feriu não for curado...
Noutra parte há de, em vão, buscar ventura:
— fica-lhe o coração despedaçado,
que o mal de Amor só nesse Amor tem cura.
[ANA AMÉLIA]
SONHO DE AMOR
Tudo isto há de passar, de certo, muito em breve...
Branca névoa sutil ir-se-á quando o sol nasça;
branco sonho de amor, passará, como passa
pelas ondas em fúria uma garça de neve.
Passará dentro em pouco, imitando a fumaça
que se evola e se esvai nas curvas que descreve.
Fumaça de ilusão, força é que o vento a leve,
força é que o vento a leve, e disperse, e desfaça.
Que importa! Uma ilusão que nos alegra e afaga
há de ser sempre assim, no mar bravo da vida,
como a espuma que fulge e morre sobre a vaga.
Esta me há de fugir, esta que hoje me inflama!
E antes vê-la fugir como uma luz perdida
que possuí-la na mão como um pouco de lama...
[AMADEO AMARAL]
quarta-feira, 11 de maio de 2022
sábado, 7 de maio de 2022
terça-feira, 3 de maio de 2022
PÁLIDA, À LUZ DA LÂMPADA SOMBRIA
Pálida, à luz da
lâmpada sombria,
sobre o leito de
flores reclinada,
como a Lua por
noite embalsamada,
entre as nuvens do
amor ela dormia!
Era a virgem do
mar, na escuma fria
pela maré das
águas embalada!
Era um anjo entre
nuvens de alvorada,
que em sonhos se
banhava e se esquecia!
Era mais bela! o
seio palpitando...
Negros olhos as
pálpebras abrindo...
Formas nuas no
leito resvalando...
Não te rias de mim
meu anjo lindo!
Por
ti — as noites eu velei chorando,
por
ti — nos sonhos morrerei sorrindo!
TRAGÉDIA BRASILEIRA
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,
Conheceu Maria Elvira na Lapa, – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura… Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos…
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de
inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
[ Manuel Bandeira ]